Galinho, Raparigueiros e Baratinha são alguns dos não classificados na análise de mérito do edital do governo. União das Escolas de Samba foi ‘inabilitada’; cabe recurso.
No resultado preliminar de mérito do edital que vai selecionar blocos e escolas de samba para o carnaval de 2020 no Distrito Federal, cinco dos oito representantes da Liga dos Blocos Tradicionais não foram classificados. A União das Escolas de Samba foi “inabilitada” (entenda abaixo). Cabe recurso para ambos os casos, até 16 de dezembro.
A lista com os contemplados foi divulgada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) na última sexta-feira (6). Ao todo, foram habilitados 54 projetos, com verba prevista de R$ 3,6 milhões.
Da Liga dos Blocos Tradicionais estão Baratona (com 98 pontos) e Encosta Que Cresce (com 70 pontos). No entanto, ficaram de fora:
Bloco de Carnaval Ásè Dúdú em Taguatinga, no Distrito Federal — Foto: Toninho Tavares/Agência Brasilia
O que diz a Liga dos Blocos Tradicionais?
O presidente da Liga dos Blocos Tradicionais Paulo Henrique de Oliveira, disse ao G1 que considera a possibilidade de os blocos, efetivamente, não saírem no carnaval do ano que vem. Se ocorrer, este será o segundo ano consecutivo sem o Galinho – em 2019, o bloco cancelou o desfile pela primeira vez em 27 anos.
“É difícil entender, porque os blocos tradicionais são os mais antigos e alguns dos mais queridos da cidade”, afirmou Oliveira. Ele também reclamou da “falta de transparência” da Secretaria de Cultura na divulgação do resultado. “Não dá pra saber quem foram os contemplados, porque saiu só com o nome dos agentes culturais.”
“Os blocos tradicionais carregaram o carnaval nas costas quando o evento era desacreditado na capital.”
Crianças e adultos se divertem no bloco da Baratinha, em Brasília — Foto: PedroVentura/AgênciaBrasília
O que diz o edital do GDF?
O edital do GDF para o Carnaval 2020 revê uma série de quesitos técnicos e qualitativos para a classificação dos projetos. São questões como “coerência da planilha orçamentária e do cronograma de execução à justificativa e aos objetivos” e “relevância da ação proposta para o cenário cultural do DF”.
A pontuação em cada um dos critérios, porém, não foi amplamente divulgada pela Secretaria de Cultura. A ficha de avaliação técnica do mérito cultural só é acessível para quem tiver o número de inscrição do projeto e o CPF ou CNPJ do proponente.
Criança pula carnaval no bloco Baratinha, no Distrito Federal — Foto: Pedro Ventura/GDF/Divulgação
O organizador dos blocos Baratona e Baratinha, Luis Lima, disse à reportagem ter achado “estranha” a classificação de um bloco, mas não de outro.
“Eles pontuaram tudo como ‘ótimo’ e ‘bom’, mas o Baratinha não foi classificado. Muito estranho.”
Em resposta, a Secretaria de Cultura informou ao G1 que considera haver transparência na divulgação dos resultados de editais do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) “a partir dos nomes dos proponentes”. A pasta disse, ainda, que “não é responsabilidade do poder público o financiamento do carnaval de rua”.
“O carnaval, assim como qualquer manifestação cultural, pode acontecer livremente, ainda que sem apoio do fomento público, como acontece em outras capitais do país como Belo Horizonte, Recife e São Paulo, por exemplo, que são referências no carnaval de rua.”
Babydoll por conta própria
Foliões na Praça do Cruzeiro no desfile do bloco Babydoll de Nylon, em Brasília — Foto: Paulo Cavera/Divulgação
O Babydoll de Nylon, criado em 2011, foi o único da liga tradicional que não se inscreveu no processo seletivo. Segundo a organizadora do bloco Rosely Youssef, a ideia é tentar captar recursos via iniciativa privada.
“Vai ser a a 10ª edição do Babydoll, mas estamos pensando em fazer uma coisa menor. Mas ainda estamos em processo de estudo.”
No carnaval deste ano, o bloco fez a folia no estacionamento do Mané Garrincha, mas em 2018, o Babydoll não saiu. Segundo Rosely, o grupo ainda “está em processo de estudo” dos cenários para 2020.
Bloco Babydoll de Nylon, no estacionamento do Mané Garrincha, no carnaval do DF em 2019 — Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
Em 2018, a organização desistiu do carnaval por dificuldades junto à Secretaria de Cultura na captação de recursos. “Tinha que ser tudo via governo e o valor oferecido era insuficiente para o tamanho do bloco. Quando, enfim, liberaram a captação, em janeiro, já não dava mais tempo”, lembrou Rosely.
Escolas de samba ‘inabilitadas’
A União das Escolas de Samba e Blocos de Enredo do DF (Uniesb) – para a qual o governo havia prometido R$ 1,2 milhão para a retomada dos desfiles, que não ocorrem desde 2015 – foi considerada “inabilitada”, por não ter alcançado a nota mínima, de 60 pontos.
Destaque de escola de samba durante cerimônia de abertura do Carnaval no DF — Foto: Renato Alves / Agência Brasília
A Uniesb disse ao G1 que espera contornar a situação na fase de recursos – que começou no último sábado (7) e segue até a próxima segunda-feira (16). Segundo a liga, alguns documentos obrigatórios, como currículos, não foram anexados na inscrição.
Conforme o edital, tanto as agremiações, quanto os blocos e plataformas carnavalescas podem incluir novos documentos na apresentação do recurso para tentar adequar os projetos aos critérios do governo.
Fonte: G1